Altruísmo: uma perspectiva evolutiva

@martusamak · 2018-08-02 22:11 · pt

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1. Introdução

Este post explora o tema do altruísmo no comportamento animal, e da problemática que este levanta. Explicarei quais as interacções entre animais da mesma espécie, focando o comportamento altruísta, que compreende efeitos negativos para o actor e efeitos positivos para o receptor. Porque a teoria da Evolução, de Charles Darwin, não consegue explicar este comportamento, surgem teorias para a resolver: selecção de grupo, selecção de parentesco, cuidado parental, teoria cave, teoria «nunca romper as fileiras» e altruísmo recíproco.

2. O que é o altruísmo?

Como já foi referido, entre indivíduos da mesma espécie podem verificar-se comportamentos malévolo, egoísta, mutualistas e altruístas. O comportamento malévolo compreende efeitos negativos tanto para o actor como para o receptor. Pierott (1980) e Gadagkar (1993) dão o exemplo da gaivota (Larus occidentalis) que “rouba” alimento e ataca as fêmeas de outros indivíduos da mesma espécie. No entanto, os machos que demonstram este comportamento, tem menos descendência do que aqueles que não o demonstram. No caso de um comportamento egoísta, o actor é beneficiado e o receptor é prejudicado. Algumas gaivotas são um exemplo disso mesmo, pois ao roubar alimento de ninhos vizinhos, para alimentar as suas crias, aumentam a sua performance, em detrimento da dos vizinhos. Em ralação aos comportamentos mutualistas, estes vão trazer benefícios ao actor e ao receptor. É o caso do lobo (Canis lupus), que ao caçar em conjunto com outros indivíduos do grupo, aumenta a probabilidade de captura da presa permitindo assim que todos se alimentem. Por último encontra-se o altruísmo. Segundo Richard Dawkins um comportamento altruísta aumenta a hipótese de sobrevivência de uma entidade semelhante (receptor) , com prejuízo de si mesmo (actor). Ou seja, um acto altruísta, é desvantajoso para o executante. Como exemplo de um acto altruísta, podemos referir a partilha de alimentos entre chimpanzés (Pan troglodytes), ou ainda a alocatagem social. No caso da alocatagem social, esta compreende duas funções: a função higiénica, em que são retirados objectos, pele morta e parasitas; e fortalece e estabiliza as relações entre os indivíduos do grupo (Boyd e Silk, 2006). ![17173100934066.jpg?w=1040](https://img.ibxk.com.br/2015/11/17/17173100934066.jpg?w=1040) No entanto, ao prejudicar o actor e beneficiar o receptor, o comportamento altruísta entra em conflito com a teoria da Selecção Natural, de Darwin. Esta baseia-se na ideia de que os indivíduos melhor adaptados ou com características apropriadas para determinados ambientes e espaços temporais sobreviverão e terão um maior sucesso que os indivíduos menos adaptados ao seu meio. Logo, serão os mesmos a ter maior sucesso reprodutivo, seja por viverem mais tempo, aumentando o número de descendentes, seja por transmitirem características vantajosas à sua descendência, o que despoletara no aumento do seu diferencial reprodutivo. Marcando a espécie com essa característica, sem olhar ao impacto da mesma sobre outros indivíduos. Como resolver esta incompatibilidade entre a teoria da evolução e a existência de comportamentos altruístas?

3. Problemática do altruísmo

Visto que o altruísmo enfrenta vários factos que negam a sua verdadeira essência aquando da sua ocorrência no meio natural, surge a questão:

3.1.Como sobreviveu o altruísmo aos mecanismos evolutivos?

Tal facto pode ser explicado pela ideia do “ falso-altruísmo”. Existem vários exemplos que fornecem uma melhor compreensão dos motivos que poderão levar os indivíduos a executar um comportamento altruísta, em que a sua performance, aparentemente, é prejudicada, mas que sob uma observação mais atenta se revelam actos que de alguma forma, irão ser vantajosos para o actor. Existem diversos comportamentos altruístas que podem ser referidos. ![1519750000910.jpg](https://img.estadao.com.br/resources/jpg/0/1/1519750000910.jpg) No caso dos primatas, observamos com frequência a alocatagem social, que desempenha um papel importante no seio do grupo enquanto elo de ligação entre os membros da comunidade. Este comportamento beneficia os executantes de duas formas. Permite a manutenção higiénica, removendo parasitas e detritos, e permite fortalecer relações sociais com os outros elementos do grupo. Um exemplo flagrante deste processo, ocorre com os babuínos. Estes, investem largamente na manutenção das suas relações sociais, sendo as suas comunidades extremamente hierarquizadas. Contudo, se observarmos atentamente, o recurso a este comportamento aparentemente altruísta, trará benefícios ao actor, mesmo que a longo prazo, pois ao fortalecer ligações e filiações entre o grupo, ao criar aliança, garante apoio perante a concorrência e predadores no futuro. Assim, o fundamento altruísta torna-se nulo. Passa-se o mesmo com as vocalizações de alarme. Este comportamento pode ser altamente prejudicial para o actor, pois frequentemente, emitir vocalizações de alarme significa revelar a sua posição ao predador, para melhorar as hipóteses de sobrevivência do grupo. Como foi referido no estudo de Sherman, que em 1985 efectuou estudo sobre a espécie de esquilos Citellus belding, no qual realizou a experiência de observar a emissão de vocalizações de alarme. Sherman determinou que 14 dos 107 que executavam vocalizações foram efectivamente atacados pelo predador, e que dos 168 indivíduos não vocalizadores apenas 8 foram atacados. Logo, conclui-se que os indivíduos que estavam de vigia, protegeram de facto o resto do grupo, salvando grande número de elementos. Mas mais uma vez, pode-mos por em causa a autenticidade altruísta deste comportamento, pois estas funções de vigia, poderão ser ocupados de forma aleatória, existindo uma rotação entre os elementos do grupo, o que fará com que cada indivíduo seja menos prejudicado, beneficiando de protecção com uma base mais regular. Mas mesmo que tal não ocorra, não podemos ignorar o facto de que ao proteger o resto do grupo, é também proteger a sua herança genética, pois geralmente os elementos constituintes do grupo partilham graus de parentesco (caso de Selecção de Grupo). Até mesmo na partilha de alimentos, que pressupõe a transacção de alimentos de livre vontade, e geralmente ocorre entre indivíduos que partilham laços de parentesco próximos, mais usualmente entre progenitora e cria, os benefícios a longo prazo acabaram por ocorrer, pois é provável que posteriormente, seja a cria a partilhar alimento com a sua progenitora ou irmãos, dependendo das circunstâncias. Assim, a comunidade científica identificou um paradoxo no altruísmo, o que levantou uma serie de questões que mais tarde seriam respondidas por teorias propostas para tentar explicar esta problemática.

Fim da 1ª parte.

Bibliografia

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Boyd, R.; Silk, JB. 2006. How humans evolved. (4ª Edição). New York: W. W. Norton & Company, Inc.

Dawkins, R. 2003. O gene egoísta. (3ª Edição). Lisboa: Gradiva.

Gadagkar, R. 1993. Trends Ecol. Evol. 8

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